sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Rainer Maria Rilke




                    “Se eu gritar, quem poderá ouvir-me, nas hierarquias dos Anjos? E, se até algum Anjo de súbito me levasse para junto do seu coração: eu sucumbiria perante a sua natureza mais potente. Pois o belo apenas é o começo do terrível, que só a custo podemos suportar, e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha destruir-nos. Todo o Anjo é terrível. Por isso me contenho e engulo o pelo deste soluço obscuro. Ai de nós, mas quem nos poderia valer? Nem Anjos, nem homens, e os argutos animais sabem já que nós no mundo interpretado não estamos confiantes nem à vontade. Resta-nos talvez uma árvore na encosta que possamos rever diariamente; resta-nos a rua de ontem e a fidelidade continuada de um hábito, que a nós se afeiçoou e em nós permaneceu.” 

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