sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Poema de Solange de Marbaix


Entardecer



Doce hora, quando a estrela vespertina,
de longe, acompanha a bica peregrina
que, no horizonte, em seu esplendor se retira
Quando, entre a noite e o dia, a terra suspira
e a bruma da floresta sobe como incenso!
Nessa hora, quando o tempo fica suspenso,
vou levar meu passo lento até a colina
onde um pequeno templo sonha na neblina;
longe do olhar humano, tão indiferente,
a velha porta guarda o ambiente dolente;
a hera se agarra a seus muros grisalhos
onde séculos gravam a dor dos seus filhos;
sob o olhar das estrelas que tudo recordam
A porta range e fogem sombras que acordam,
cada pedra fala a meu coração piedoso
e vejo balançar-se no altar penumbroso
a luz bruxuleante da velha lamparina,
que dança suspensa e o vitral alumia,
ainda vela quando os poderosos dormem
(eles de dia nem se lembram que existem!...)
Agora, a modesta chama é minha cúmplice
que à divindade meu canto Felice
tudo cala, e vence o silencio dos lábios
só os anjos, ajoelhados, ouvem os murmúrios
que eles recebem com brancas mãos amorosas
e levam para regiões tristes por luz ansiosas
Uma coruja, hóspede da sagrada morada
abre as asas e, rápida, foge assustada.

Agradeço por poder a minha dor derramar,
onde abandono os segredos enterrados
sabendo que Deus os ouve e são recebidos.
Mas, como eu, humilde viajante do planeta,
ouso dirigir-me a Ti, vir na Tua morada
onde só os anjos tem direito de falar,
de receber Tua benção e de se ajoelhar?

Ah! perdoa, mas sabes que meu coração tem asas,
És Tu que atiraste nele ardentes brasas...
Junto à Luz que mão piedosa veio alumiar
enquanto todos dormem, quero de Ti me inebriar
Afastada de tudo: homens , altar e templo
mergulho em Tua mente, sempre alheio ao tempo
Até um raio de luz descer, beijar meu rosto
E devolver à terra o que o céu lhe roubou

Mas, já está na hora de deixar Tua morada...
cruel apartar porque minha alma foi raptada!

E tu, passante, que viu minha lágrima cair,
vê como meu coração está alegre ao sair!